0 "Se não têm pão, que comam brioches."

Nascida na Áustria, Maria Antônia Josefa Johanna von Habsburg-Lothringen, ou simplesmente Maria Antonieta é enviada ainda adolescente - aos 14 anos para ser mais exata -  à França para se casar com o príncipe Luis XVI (Jason Schwartzman), como parte de um acordo entre os países. O casamento foi arranjado por sua mãe, a Sacro Imperadora Maria Teresa de Habsburgo, que foi a primeira e única mulher a governar sobre os domínios habsbúrgicos e a última chefe da Casa de Habsburgo. Na corte de Versalles ela é envolvida em rígidas regras de etiqueta, ferrenhas disputas familiares e fofocas insuportáveis, mundo em que nunca se sentiu confortável. Praticamente exilada, decide criar um universo à parte dentro daquela corte, no qual pode se divertir e aproveitar sua juventude. Só que, fora das paredes do palácio, a revolução não pode mais esperar para explodir. Apesar dos anos que passou praticamente aprisionada em sua nova casa na França, Maria Antonieta começou a aproveitar a nova vida quando virou rainha, em 1774.



Rainha e ícone da moda


"Utilizava a moda como um instrumento político, como forma de aumentar ou sustentar sua autoridade em momentos em que ela parecia estar sob risco". 


Era através da aparência, portanto, que Antonieta se mostrava como soberana: acima de qualquer outra mulher na França. Ao contrário de soberanas como Cleópatra ou Elizabeth I, Antonieta não se vestiu para intimidar; ela se produzia para deslumbrar; nos bailes a fantasia procurava sempre os trajes mais suntuosos, que a fizessem ser destaque na multidão. Dessa forma, todos os olhares estariam sobre a rainha, e alguns dias mais tarde seu visual seria copiado pelas mulheres de posse da França, fossem elas nobres ou burguesas. Nunca antes uma rainha da França havia se mostrado glamourosa. Costumavam ser discretas. Antonieta ousou se impor na corte através do visual, e durante um bom tempo foi bastante admirada e imitada, como uma celebridade atual ou como Lady Diana no Reino Unido. Tornou-se a referência máxima em moda: era ela quem ditava as tendências em vestidos, penteados e maquiagem. E, era copiada pelas nobres de Versalhes de Paris e também pelas burguesas endinheiradas da época. Consumista, sim, talvez desproporcional para uma corte em crise??

De certa forma, é como se Antonieta, frustrada, resolvesse seus problemas como uma adolescente (visto que adolescência é uma criação contemporânea e não existia esse período de transição lenta e gradual da infância para a vida adulta). Vazia e fútil, superficial - que chamamos hoje de “patricinha”: fazendo compras. Ao se debruçar sobre a infinidade de sapatos, jóias, doces e vestidos, ela revela sua recém-tomada decisão (talvez inconsciente) de tentar esquecer a questão problemática do herdeiro e aproveitar a parte 
doce da vida. Essa seqüência, portanto, expressa a mudança de estado de espírito da jovem, que se torna, então, ainda mais hedonista, em um total deslumbramento com a vida na corte. 



Demonstrar que a nobreza cortesã havia chegado a um limite de extravagância e de esbanjamento, e que o rei era completamente inapto para o cargo, resultando numa situação insustentável, cujas conseqüências não poderiam ter sido diferentes. Qualquer que tenha sido o fim de Maria Antonieta, o que conta aqui é que a última rainha da França, apesar de toda a imagem controversa que a tornou uma lenda, é hoje reconhecida como um importante personagem da história da moda, e assim o foi desde que se reinventou para demonstrar poder e destacar-se entre a nobreza francesa que a cercavam, mesmo que este poder não seja utilizado para a governança da França e sim para a criação de um microcosmo no qual ela era o centro. 
Atingiu tal destaque, que era copiada em tudo o que usava. Era copiada tanto por nobres quanto por burgueses, desta maneira, chapéus, penteados e vestidos usados por ela eram ponto de referência para as mulheres pertencentes às classes mais abastadas não só da França, mas de toda a Europa e mesmo América. Uma posição que antes pertencia à amante favorita do rei, foi totalmente ofuscada pela austríaca, seja pelo marido que não 
tinha interesse por amantes ou pela vontade arrebatadora de ser respeitada e impor-se. O que Antonieta fez em relação à aparência foi um chocante desvio do costume cortesão estabelecido. 
Referindo-se ao desfecho trágico da rainha, poderíamos usar a frase de Michael Ondaatje e seu personagem Billy the Kid que dizia “O sangue foi um colar para mim toda a minha vida”. Maria Antonieta poderia muito bem ter apropriado a fala. Pouco tempo depois que a guilhotina cortou a versão sangrenta de um colar em seu pescoço, as mulheres bem nascidas de Paris passaram a atar finas fitas vermelhas em torno do pescoço como lembretes do que logo poderiam sofrer. Ou seja, até na morte a rainha afirmou um vínculo 
poderoso entre moda, morte e política. 
Centenas de anos mais tarde, a rainha ainda influencia a moda, gerando incontáveis lucros. Seja por servir de inspiração para vitrines em grandes lojas das principais capitais de moda, como a Barney’s em Nova York, cujos feitos mais notáveis são do Natal de 2005 e de 2010, seja pela silhueta do modelo exposto na vitrine ou pela alusão direta à personagem histórica. A figura de cima da vitrine de 2010 faz alusão à silhueta usada no século XVIII e a figura debaixo faz referência explícita à rainha: tanto pela cabeça distante 
do corpo, como pela silhueta e também pela frase que ela supostamente teria dito e irritado tanto os franceses: “Se não tem pão, que comam brioches.” 




E para quem quer saber um poucão a mais sobre a rainha mais polêmica, Caroline Weber, autora do livro Rainha da Moda: como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução (2008), diz que obsessivamente monitorado pelos que a cercavam (como hoje os paparazzi, fazem com as celebridades), o estilo heterodoxo de Maria Antonieta incitava uma reação violenta entre cortesões que se opunham vigorosamente à sua ascensão e se irritavam como o modo como ela contestava veneráveis costumes reais. A história das preferências reais da monarca em relação ao vestuário ainda pode, contudo ser compilada a partir de uma variedade de fontes do século XVIII: de retratos formais a charges satíricas, de revistas de moda a panfletos pornográficos e das lembranças de seus contemporâneos aos livros contábeis de fornecedores de roupas e da administradora de ser guarda-roupa.


Texto apoio:
Anagrama Expressão Maria Antonieta - USP

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